Esperança e desesperança

Ponyville

Fonte: cdn-img.fimfiction.net

SINOPSE: Em um dia quente de verão, Princesa Celestia caminhava pelos campos de Ponyville, onde acabou se deparando com um estranho “pônei”.

Autor: LittleKhan

***

“Bem, meus pequenos pôneis,” Princesa Celestia sorria enquanto saía do castelo de Twilight. “ Foi maravilhoso ver todas vocês novamente. E Fluttershy, obrigada por trazer aquela nova receita de chá, estava delicioso! ”Fluttershy corava e sorria.

“Oh, bem… disponha, alteza. Foi um prazer.” As outras caminhavam atrás dela e paravam no ar quente.

“Bem, todas vocês,” Dizia Applejack, “Foi uma ótima maneira de passar a manhã, mas tenho que voltar ao Rancho Maçã Doce, o Big Mac precisa de ajuda com o plantio”.

“Sim”, dizia Pinkie. “E eu tenho que pegar mais ingredientes na loja do BonBon. Tenho uma remessa de cupcakes para fazer no Torrão de Açúcar.” A princesa Celestia dava a todas outro sorriso caloroso.

“Bem, suponho que todas vocês tenham lugares para estar. Obrigada por passarem algum tempo comigo hoje. Tenha um bom dia, garotas.” Cinco das pôneis disseram seu adeus final e trotaram (ou voaram), embora uma permanecesse. Twilight Sparkle se virava para sua mentora.

“Bem, eu tenho que ir também, Celestia. Tenho um compromisso com a prefeita hoje. Códigos de impostos.” Ela fazia uma careta. Princesa Celestia ria.

“Boa sorte então, Princesa Twilight. Tenho certeza que você se sairá bem.” Twilight revirava os olhos.

“Tenho certeza que vou sobreviver. De qualquer forma, tenha um bom voo de volta!” Em seguida, ela saía correndo.

Princesa Celestia caminhava lentamente até onde seus guardas e a carruagem estavam. Era realmente um dia lindo. O céu era de um azul claro, enquanto apenas algumas nuvens brancas estavam espalhadas. Os pássaros chilreavam e cantavam, e uma brisa suave soprava pela grama. Ela parava na frente da carruagem, fechava os olhos, inclinava a cabeça para trás, respirava fundo e depois expirava. Momentos como esses eram mais raros do que ela gostaria. Canterlot e seus jardins tinham sua própria beleza, mas a princesa Celestia concluía que o esplendor ininterrupto do campo não podia ser substituído por nada. Por um momento, ela ficava ali parada, com uma expressão satisfeita no rosto. Então ela piscava uma vez, abria os olhos e olhava em volta. Era realmente lindo aqui, ao seu redor. Tão pacífico e tranquilo.

De fato…

Uma ideia estava se formando em sua mente. Ela havia planejado voltar para Canterlot e colocar em dia o que estava lendo, mas agora outro pensamento lhe ocorrera.

Eu imagino… bah! Para o tártaro com isso.

Ela se virava para seus guardas, com os cantos de sua boca puxando para cima. “Cavalheiros, mudança nos planos. Decidi fazer uma caminhada. Os guardas piscavam. Eles a encaravam por um momento e então olhavam de volta um para o outro. Em seguida eles tiravam os arreios da carruagem e davam um passo à frente. Com o sorriso ainda em seu rosto, ela se virava e saía caminhando em direção ao campo.

Por um tempo ela apenas caminhava, com os guardas a uma distância respeitosa atrás dela, longe o suficiente para que ela provavelmente não os notasse, mas perto o suficiente caso ela precisasse deles para alguma coisa. A princesa estava gostando disso. Ela vagava pelos arredores de Ponyville sem um objetivo ou destino específico em mente, apenas apreciando a chance de estar fora da cidade, longe da proximidade e dos compromissos de Canterlot.

Eu deveria trazer Luna aqui às vezes.

Quando ela chegava ao topo de uma colina, Princesa Celestia avistava alguém caminhando pelos campos há aproximadamente 100 trotadas à sua frente. Parecia um unicórnio de cor verde escuro, com uma crina marrom e um par de alforjes sobre ele. Ela via quando ele caminhava cerca de uma dúzia de metros, um pouco instável, ela pensava, e se sentava na frente de uma árvore. Ela olhava para o pônei por um momento, se perguntando o que poderia trazer qualquer outro pônei para esse local. O mais provável é que eles não estavam tão longe de Ponyville assim; talvez ele estivesse apenas pensando em apreciar a paisagem, como ela estava fazendo.

Ou talvez não.

Ela achava curioso saber quem era esse pônei e o que ele estava fazendo aqui. Ela poderia simplesmente ir até ele e perguntar, mas não queria ver ninguém se curvando para ela. Não, isso exigia alguma sutileza e planejamento.

Ela virava para a direita e avistava um pequeno bosque. Isso funcionaria. Ela gesticulava para os guardas, e todos se aproximavam. Entrando no bosque, ela fechava os olhos e focava sua magia. Ela lançava o primeiro feitiço. O primeiro só demorou alguns segundos; sua coroa e colar desapareceram com um breve flash. O segundo feitiço foi mais complicado. Era um feitiço temporário de mudança de forma/ilusão. Enquanto seu chifre brilhava, ela começava a encolher. Suas asas desvaneciam-se de vista e seu cabelo perdia a eterealidade habitual, tornando-se um rosa claro. Por fim, sua marca especial mudava, o sol em seu flanco dava lugar a uma estrela dourada de quatro pontas. Esse era um disfarce que ela costumava usar quando queria ou precisava de anonimato entre seus súditos; apenas pouquíssimos pôneis sabiam disso. Depois de uma rápida checagem final da aparência, ela saía do interior do bosque e caminhava para onde havia visto o garanhão se sentar.

Aproximando-se por trás e ligeiramente à sua esquerda, a princesa via que ele não tinha saído. Estava sentado com suas ancas na frente dela, embora um pouco mais encurvado, olhando para Ponyville ao horizonte. Quando a princesa completava as últimas dezenas de metros, notava várias coisas sobre ele. Embora as sombras que a árvore lançava sobre ele o tornassem um pouco difícil de ver, ela podia observar que a crina e o pêlo pareciam sujos e despenteados, como se ele não tivesse tomado banho e/ou escovado por algum tempo. Ele também parecia um pouco magro, quase emaciado. Quando ela chegava mais perto, suas orelhas se animavam e sua cabeça se virava para ela. O rosto do pônei estava na mesma condição que o resto dele: sujo e havia olheiras.

“Olá”, dizia ela, tentando dar-lhe um sorriso mais caloroso enquanto ela encerrava o passo final e sentava-se.

“Olá”. Ele não se virava para ela.

“Eu sou Star Burst. Qual o seu nome?” Dizia Celestia.

“… Meu nome é John.”

Bem, esse era um nome bastante estranho… mas não era o nome mais estranho que a princesa já ouviu. Seu olhar então se dirigia até seu flanco, onde estava sua marca especial, ou pelo menos onde deveria estar.

Este pônei não tinha marca especial. Embora não fosse inédito para um pônei adulto não ter uma, certamente era uma ocorrência muito rara, e também muito debilitante. Quando a Princesa olhava para o rosto dele, notava que ele tinha uma sobrancelha ligeiramente levantada, em uma expressão conhecida, mas resignada. Em um esforço para prosseguir com a conversa, ela gesticulava para seus alforjes.

“Então, pelo que estou vendo parece que você não é daqui.” Dizia John.

“Não, sou nova em Equestria.” Respondia Celestia.

“Sim, dá pra ver.” John assentia, e então seus olhos passavam por ela.

“E por que os guardas?”, Ele perguntava. Celestia olhava para trás.

Oh céus. Me esqueci deles. Ok, pense… como eu explico isso?

“Ah, bem, eu trabalho para a Princesa Celestia. Tinha alguns negócios em Ponyville e decidi dar um passeio. Seus olhos se arregalavam um pouco com a resposta.

“Você trabalha para a Princesa?” Ela respondia a pergunta assentindo com a cabeça. Houve uma pausa desajeitada quando ele parecia considerar isso.

“Então, de onde você é?” Ela perguntava. John hesitava por um momento, e então, seu olhar abaixava.

“De muito longe. É bem provável que você não tenha ouvido falar.”

“Entendo. Posso perguntar por que você decidiu vir para Equestria?” Ela perguntava hesitantemente.

“Eu realmente não tinha muita escolha.” Seu tom de voz combinava com seu olhar novamente resignado. Ela estremecia um pouco por dentro.

“Bem, Equestria é um país muito bom. Tenho certeza que você vai gostar daqui.” Ela sinceramente esperava que ele gostasse. É triste que algum pônei possa parecer tão destituído e sem esperança. Ele inclinava a cabeça, um olhar levemente pensativo deslizava pelo rosto.

“Sabe, é realmente um pouco diferente aqui… mais do que eu pensei que fosse.”

“Oh”, ela perguntava, ambos antecipando e temendo sua resposta. “Como assim?”

“Eu… tive alguns amigos que costumavam falar sobre esse lugar. Eu realmente nunca os escutei muito. Eu estava… ocupado com outras coisas. Acho que… bem, quando você está tão distante, você tende a ver as coisas de uma forma diferente de quando você está realmente lá, vivenciando.” Não era bem essa resposta que Celestia esperava.

“Então, você teve amigos que te falaram sobre Equestria?”

“Sim”. Ele fazia uma pausa novamente. “Eles até me levaram para ver uma… peça de teatro sobre esse lugar uma vez.” Um olhar peculiar pairava sobre ele, um composto de humor e um toque de amargura.

“Hmm. Foi bom?” Ele pensava na resposta, como se não esperasse que ela fizesse tal pergunta.

“Ah bem. Digamos que para uma peça de teatro feita para crianças não foi ruim.” O olhar de humor misturado com a amargura se tornava um pouco mais agudo. Havia outra pausa desajeitada. Ele ficava tenso, como se estivesse discutindo consigo mesmo novamente. Então ele se virava para olhar Celestia.

“Você… trabalha para a Princesa Celestia, certo?” Ela assentia. “Ouvi dizer que houve um incidente um tempo atrás, onde uma ex-aluna dela roubou a coroa da princesa Twilight ou algo assim.” Ela balançava a cabeça novamente, mais hesitantemente desta vez.

“Ah…sim.”

“E isso… não envolveu um espelho mágico que leva a outros mundos, por acaso?” Sua voz subia no final.

“Er, não, não foi. Eu temo que eu não saiba muita coisa sobre esse evento.” Ela não queria decepcioná-lo assim, mesmo que ela não tivesse ideia do que ou porque ele estava fazendo essa pergunta. Sua cabeça se voltava para baixo para observar a grama sob seus cascos dianteiros.

“Eu não penso assim.” Ele esvaziava, sua expressão tornando-se monótona e sem vida novamente. Por um momento, eles apenas ficavam sentados, perdidos em seus próprios pensamentos. A princesa estava quebrando a cabeça, tentando pensar em alguma maneira de descobrir como ajudá-lo.

“Bem, você já pensou em voltar para casa?” Certamente havia pôneis lá que cuidavam dele.

Sua voz estava mais quieta e mais dura que antes. “Receio que não seja possível.” Suas orelhas se dobravam.

“Oh. Eu sinto muito.”Com nada mais para fazer, ela olhava por cima do corpo dele mais uma vez. Ele parecia ter a mesma idade de Twilight e suas amigas, ou talvez um pouco mais velho. Quando ela o examinava novamente, notava algo sobre as orelhas dele, havia alguma coloração amarelada ao redor da parte de baixo.“ Sabe, você parece um pouco doente. Deveria ir ao hospital. Há um em Ponyville.

“Não tenho dinheiro.”

“O que?”

“Dinheiro?”

Ele se virava para ela. “Dinheiro para o hospital.”

“Mas você não precisa de dinheiro para isso. De onde você vem é necessário? Isso deveria ter sido explicado para você quando imigrou para cá.” Ele piscava. Então começava a rir, uma risada que não era inteiramente divertida.

“Claro!”, Ele gritava. “Como eu poderia ser tão estúpido?! hahahaha!” Celestia recuava um pouco, em choque. Ela esperava até que o riso de John cessasse. Ele enxugava algumas lágrimas dos olhos. “Bem, suponho que eu poderia ir para a cidade. Ponyville, certo?” Celestia assentia. “Acho que aqui é um lugar tão bom quanto qualquer outro.”

“Você vai gostar desta cidade. É muito amigável.” Ele bufava para isso.

“Sim, sim, ouvi falar.” A princesa esperava que ele pudesse encontrar uma nova vida aqui, talvez até mesmo arranjar uma casa.

“Sabe, se você está procurando um emprego, acho que o Rancho Maçã Doce está contratando.” John olhava para ela com uma expressão cética em seu rosto.

“Não acho que eles contratariam alguém como eu.”

De fato, ele provavelmente estava certo.

A frustração começava a atormentá-la. Ela odiava quando se envolvia numa situação como essa. Ela era a governante absoluta do reino mais poderoso e próspero do mundo, ela movia o sol, e ainda assim não conseguia ajudar um único pônei a conseguir um emprego… e provavelmente um lugar para morar também, agora que ela pensava sobre isso.

Não, eu tenho que fazer alguma coisa.

Ela respirava fundo. “Diga a eles que Star Burst enviou você.” John escutava, e então franzia a testa.

“Não, está tudo bem”, dizia ele, sacudindo a cabeça. “Eu posso me virar.”

Ela gemia internamente.

“Por favor, pode pelo menos tentar?” Sua voz subia no final, apenas tímida de implorar. Ele olhava para ela por um momento.

“Tudo bem,” ele respondia. Ela sorriu. Então ele se levantava e ela fazia o mesmo.

“Bem, eu deveria ir embora então.” Sua voz ainda não tinha alegria, mas havia uma determinação que não estava lá antes. Ela estava feliz em ouvir isso.

“Boa sorte John,” ela dizia. “Foi bom conhecê-lo.”

“Foi bom te conhecer também,” respondia ele. Com isso, ele se virava e ia embora. Enquanto ele se distanciava, a princesa notava que seu caminhar era um pouco estranho. Quando ele começava a descer o lado da colina, ele diminuía consideravelmente, como se tivesse certeza absoluta de que não tropeçaria ou cairia. Ela não achava que isso poderia ser causado por fome ou qualquer tipo de doença.

O que mais pode estar errado com ele?

Ela definitivamente iria escrever uma carta para Twilight, perguntando se ela poderia dar assistência a ele. Com a bondade e compreensão dos moradores de Ponyville, Celestia sabia que ele ficaria bem.

Então ela se virava e começava a caminhar de volta para a cidade e sua carruagem.

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